sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Os Homossexuais na Indústria Fonográfica.

Dentro da evolução das espécies, sempre existiu a prática humana de relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo. Porém, sempre foi conhecido que para ocorrer o prosseguimento das espécies seria necessário que humanos do sexo masculino mantivessem relações sexuais com humanas do sexo feminino, gerando futuros humanos que dariam seguimento as gerações futuras, porém, tal fato jamais impediu que se tornasse impossível humanos do mesmo sexo formarem sentimentos e construírem relações de afeto. Parte considerável das primeiras formações sociais não aceitaram o fato de dois homens ou duas mulheres manterem um relacionamento afetivo, era necessário que as linhagens familiares fossem mantidas, porém, duas das mais importantes civilizações clássicas, Grécia e Roma, apresentaram extensos casos de vestígios onde homens e mulheres mantinham relações sexuais ou afetivas entre eles próprios, mesmo não existindo o gênero homossexual, criado no século XVI. Um fato curioso que merece ser citado, é que relações sexuais entre homens gregos, durante o período inicial da formação social, eram permitidas apenas se entre um sábio que apresentasse idade mais avançada e um jovem que poderia ser usado como pupilo, e o mais velho fazendo o papel de ativo na relação, se um homem de idade apresentasse tendências a prática de sexo anal ou quisesse manter alguma relação com apenas um homem, não era aceito pela sociedade grega. O exército espartano apresenta histórico de relações homoeróticas, porém, tal acontecimento era gerado mais por uma razão estratégica do que social, era necessário para o exército que os soldados criassem afetos entre eles, dessa forma, se tornariam mais imbatíveis. O famoso imperador grego Julio César, apesar de ser um homem avançado para sua época, ouvia piadinhas pelo fato de gostar de manter relações sexuais com mulheres e homens, muitos o chamavam de “prostituta romana” e “esposa de todos os maridos”. Com o fim das civilizações clássicas, a humanidade passou por longos e lentos séculos, o começo da era cristã, o fim da idade média, o descobrimento das americanas, as revoluções sociais e econômicas e o começo do século XX, muitas coisas mudaram durante esses períodos, porém, a posição social dos homossexuais continuou sendo praticamente a mesma, renegados ao submundo e a margem da sociedade, para se ter uma ideia, na Inglaterra do século XVI homossexuais eram presos apenas por suas escolhas, caso do autor Oscar Wilde, que morreu doente na cadeia. 


Durante a Segunda Guerra Mundial, diversos homossexuais foram mortos no holocausto pelas leis alemãs (liderados por Hitler, este, segundo estudos, um homossexual enrustido), o que mostra que mesmo em uma época avançada como o século XX, onde outros personagens históricos renegados ao esquecimento, como as mulheres, ganharam espaço, o gênero homossexual ainda sofria perseguição e preconceito. Durante a revolução sexual do fim da década de 50 e começo da década de 60, surge em Nova York um movimento artístico liderado por um homossexual assumido, Andy Warhol. O movimento, intitulado de Pop Art, apresentava características tipicamente gays e tinha entre seus principais colaboradores diversos homossexuais, como a transexual Candy Darling, que iria virar fonte de inspiração para a canção Candy Says, do grupo The Velvet Underground. Assim como a própria Candy, o grupo, liderado por Lou Reed, também era um fruto direto da Factory de Andy Warhol, é conhecido na biografia do vocalista que em determinado momento de sua vida teve relações homossexuais, mesmo sendo heterossexual. Apesar de não ser uma banda formada por homossexuais, o The Velvet Underground foi uma das primeiras a tocarem na ferida social e o vocalista/compositor Lou Reed ficou conhecido por sua sensibilidade na hora de escrever letras, como fica mostrado na já citada Candy Says, letra que retrata o sofrimento de um homossexual em aceitar sua opção:
Candy diz Eu tenho voltado a odiar meu corpo
e tudo o mais que é exigido nesse mundo.
Candy diz Eu queria saber completamente
o que os outros tão discretamente conversam

Eu quero ver os pássaros azuis voarem acima dos meus ombros
Eu quero ver eles me ignorarem
Talvez quando eu for mais velha
O que você acha que eu iria ver
Se eu pudesse me afastar de mim


Contemporâneo de Lou Reed, David Bowie, também um heterossexual, casado com uma mulher, se torna um ícone no começo da década de 70 por se apresentar como Ziggy Stardust, um aberrativo alter-ego alienígena que se apresentava de maquiagem e salto alto. O visual do alter-ego foi criado na Factory pelos “funcionários” homossexuais de Andy Warhol. Enquanto Bowie alcançava o topo, Lou Reed entrava em decadência e chegou a morar na rua. Quem o tirou do ostracismo foi Bowie, que produziu o disco Transformer, que entre suas músicas mostrava a irreverente Make Up, que dizia:
Seu rosto quando dorme é sublime
E então você abrir seus olhos

Em seguida, vem o número um fator de panqueca
delineador, rosa mosqueta e gloss, divertido
Você é uma menina mancha pequena
você é uma garota mancha pequena

Rouge e coloração, incenso e gelo
perfume e beijos, oohh, é tudo tão bom
Você é uma menina mancha pequena
você é uma garota tão liso pouco

Agora, estamos saindo
fora de nossos armários
Out nas ruas
sim, nós estamos saindo


O que todos sabiam durante a época era que a letra tinha sido escrita por Lou Reed em homenagem a David Bowie, os dois mantiveram um relacionamento aberto durante o período e nem faziam questão de se esconderem dos olhares do público. Mesmo não sendo homossexuais, foram corajosos por adotarem tais posturas públicas. 



Contemporâneo de Lou Reed e David Bowie, o obscuro Jobriath entraria para os anais musicais como o primeiro artista assumidamente homossexual. O que poucos sabem é que o cantor foi lançado como uma tentativa de “David Bowie norte-americano”, jamais alcançando o mesmo nível artístico do inglês. Apesar de não ter alcançado relevância artística enquanto vivo, o seu trabalho acabou sendo apropriado pela cultura gay depois de sua morte, causada por AIDS na década  de 80.



No Brasil, durante a década de 70, o país passava por um pesado processo de ditadura militar que iria durar até 1984. Existe uma lenda dentro do meio artístico nacional sobre um fato envolvendo o cantor brega Odair José, que era um dos artistas mais censurados por tocar em temas polêmicos como a prevenção sexual e as relações extra conjugais, enquanto sofria mais uma proibição, o artista questionou um dos militares com a seguinte frase “porque vocês censuram minha música enquanto o Ney Matogrosso está rebolando com uma pena na bunda no Maracanã?”. A Frase de Odair José diz muito sobre a imagem que o vocalista da banda Secos & Molhados exercia sobre o público brasileiro do período, se hoje em dia seria difícil para uma parte da sociedade aceitar um artista tão excêntrico e distinto, para a época não foi diferente, porém, ao contrário do que muitos esperavam, o Secos & Molhados se tornou uma das bandas mais populares do período e a figura de Ney Matogrosso popular, mesmo grande parte do público e do meio artístico conhecendo suas preferências sexuais. Mesmo casados com mulheres, Caetano Veloso e Gilberto Gil, também mantinham suas relações com pessoas do mesmo sexo, fato que nunca fizeram questão de esconder em suas letras, como fica comprovado em O Leãozinho, escrita por Caetano na década de 70:
Gosto de te ver ao sol, leãozinho
De te ver entrar no mar
Tua pele, tua luz, tua juba
Gosto de ficar ao sol, leãozinho
De molhar minha juba
De estar perto de você e entrar no mar



Já Gilberto Gil, foi bem mais direto e emotivo na hora de escrever suas canções com temática homossexual, mostrado nas belas SUPER-HOMEM (A CANÇÃO) e Pai e Mãe:
Um dia vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter
Que nada, minha porção mulher que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É o que me faz viver


Eu passei muito tempo
Aprendendo a beijar
Outros homens

Como beijo o meu pai

Eu passei muito tempo
Pra saber que a mulher
Que eu amei
Que amo
Que amarei
Será sempre a mulher
Como é minha mãe


Na mesma época, o vocalista do Queen, Freddy Mercury aparece para o público e se torna um dos maiores ícones gays de todos os tempos. O cantor causou furor entre  público por manter relacionamentos sexuais abertos com outros homens, gerando polêmica por seus gostos sexuais extremos, como mostrado em matéria da revista Blitz:
"Ele tinha um apetite inesgotável", diziam os amigos. Para o vocalista dos Queen não havia limites para o prazer. A promiscuidade e a generosidade de um homem que se dizia só. Texto de Luís Guerra 


Logo depois do estouro do Queen no mundo, também estourou a AIDS, vírus transmitido principalmente por relações sexuais e contatos sanguínos. Freddy Mercury seria um entre vários gays a serem vitimas do vírus, morrendo em 1991 e causando choque entre os fãs. A AIDS se espalhou rápido pelo mundo durante a década de 80 e ficou conhecido como o “câncer gay”, mostrando que o mundo ainda era carregado de preconceitos e esteriótipos. Outro músico homossexual a morrer da mesma causa foi o alemão Klaus Nomi em 1983, conhecido por suas músicas estranhas e visuais surrealistas. O artista foi popularizado por David Bowie em suas apresentações durante o fim da década de 70 e começo da década de 80.




David Bowie também iria ajudar outro artista homossexual durante a mesma época, o prodígio inglês Boy George. O futuro vocalista do Culture Club apareceu pela primeira vez aos olhos do público do vídeo Ashes To Ashes de Bowie. Posteriormente, iria ficar famoso por se apresentar em público com um visual excêntrico e andrógino (muitos da época tinham dificuldade de identificar o seu verdadeiro sexo), além de cantar músicas com letras abertas sobre relacionamentos homossexuais, como no hino Karma Chamaleon:
não ouvir suas palavras fracas todos os dias
e você costumava ser tão doce eu ouvi você dizer
que meu amor era um vício
quando nos apegamos nosso amor é forte
quando você vai você vai para sempre
você arando
você arando

Todos os dias é como sobreviver
Você é meu amante não meu rival



Durante a década de 80 surgia no cenário alternativo o grupo The Smiths, liderado pelo vocalista e compositor Morrissey e o guitarrista Johnny Marr, a banda ficou conhecido por suas melodias bem trabalhadas e por ter popularizado o rock alternativo inglês. Ouvindo as músicas da banda, não tem como ignorar as diversas letras com temáticas gays, caso das clássicas Handsome Devil e Hand In Glove:

Todas as ruas estão entulhadas de coisas
Ansiosas para serem pegas
Eu sei para que servem as mãos
E eu gostaria de me servir
Você me pergunta as horas
Mas eu sinto algo mais
E eu gostaria de dar
O que eu acho que você está pedindo
Seu demônio bonitão



E se as pessoas encararem
Deixe que as pessoas encarem
Oh, eu realmente não sei
E realmente não me importo
(beije minhas sombras)

Mão na luva
As "pessoas boas" riem
Sim, podemos estar escondidos atrás de farrapos
Mas nós temos algo que elas nunca terão


Um dos precursores da música eletrônica, o Pet Shop Boys, formado por Neil Tenant e Chris Lowe ficaram conhecidos como ícones gays e por abriram as portas para a nova cena durante a década de 80. Muitas de suas músicas se tornaram clássicas, como The Night I Fell In Love:
Eu estava nos bastidores
Não podia acreditar que minha sorte estava ali
Eu vi ele se aproximar
Vestindo o mais aconchegante sorriso
Quando ele disse "Olá!"
Eu fiquei surpreso de ele falar tão educadamente
Eu disse que tinha gostado de seu show
Bem, ele apenas sorriu
Acho que isso acontece todas as noites
E assim
Eu me apaixonei.



Cazuza e Renato Russo virariam dois dos artistas mais populares e bem sucedidos da história da música nacional durante a década de 80, como vocalistas das bandas Barão Vermelho e Legião Urbana. Cazuza, bem mais aberto e escandaloso, teve diversas aventuras amorosas abertas com desconhecidos e famosos enquanto estava vivo, caso do seu caso com Ney Matogrosso. Quando descobriu que tinha contraído o vírus da AIDS, o artista não parou sua agenda de shows e chocou o público ao apresentar uma decadência física jamais vista na história da música, como desabafo o artista iria escrever:

“Me chamam de ladrão, bicha e maconheiro, transformam o país inteiro em um puteiro, para ver se assim ganham mais dinheiro”

Já Renato Russo, nunca fez uso de sua bissexualidade como um padrão artístico, bem mais discreto, o artista chocou parte do público em 1996 quando faleceu de AIDS. O artista iria escrever uma simbólica letra, intitulada de Meninos e Meninas:


Acho que gosto de São Paulo
Gosto de São João
Gosto de São Francisco e São Sebastião
E eu gosto de meninos e meninas



Apesar da evolução que o mundo vinha sofrendo durante o período, ainda era extremamente complicado para um gay se assumir publicamente durante a década de 80, se essa pessoa em questão fosse um artista famoso mundialmente, como Elton John, se tornaria mais complicado ainda. Elton passou anos de sua carreira tentando esconder da imprensa e dos fãs sua verdadeira opção sexual, em 1984 chegou a armar um casamento de fachada para esconder tal fato. Sem aguentar tamanha pressão, em 1989 o artista sai do armário e se torna um dos maiores ativistas das causas gays no mundo da música. Na década de 2000 Elton se casa perante a lei e adota um filho. Fato curioso, a revelação não atrapalhou em nada o desenvolvimento da carreira do artista.



O também inglês George Michael foi um verdadeiro fenômeno musical durante a década de 80, vendendo milhões de cópias mundialmente. O artista se vendia comercialmente como um heterossexual, apesar disso, no começo da década de 90 já dava pistas de sua verdadeira opção, como na letra da clássica Freedom 90:

Deus sabe que eu era apenas um garoto novo
Não sabia o que eu queria ser
Eu fazia a alegria de cada garotinha na escola
E acho que era o suficiente para
Vencer a corrida
Um rosto mais bonito!
Roupas novas e um grande lugar
No seu canal de rock & roll
Mas hoje em dia eu jogo de outro jeito (de jeito nenhum)
Acho que vou me fazer um pouco feliz

Acho que tem algo que você deve saber
Acho que já é hora de te dizer
Há algo bem dentro de mim
Há outra pessoa que tenho que ser
Pegue de volta sua foto em um porta-retrato
Pegue de volta sua cantoria na chuva
Só espero que você entenda
Às vezes as roupas não fazem o homem

Apesar de ser uma revelação quase aberta, demorou mais cerca de 8 anos para o artista se assumir, e de uma forma totalmente escandalosa. Em 1998, enquanto passava temporada nos Estados Unidos, o cantor foi flagrado tentando fazer sexo oral em um policial em um banheiro público. Foi processado por atentado ao pudor e obrigado, enfim, a sair do armário.



Durante a década de 1960, a atriz e cantora Judy Garland fez bem sucedidas apresentações na casa de shows Carneggie Hall, chamando atenção do público para os seus fãs gays. A cantora, desde o começo de sua carreira, carregou o status de “ícone gay”, posto que depois iria ser ocupado por diversas cantoras da pop music que também tinham parte de seus fãs vindos da cultura LGBT. Judy abriu as portas para as artistas femininas apoiadas e adotadas pelos gays. Ideia que iria ser levada a outra dimensão na década de 80, quando Cher, em 1986, fazendo um show em Nova York, manda chamar todas as travestis da cidade para estarem presentes no espetáculo. Madonna, a mais conhecida artista pop feminina de todos os tempos, iria lançar tendência no começo da década de 90 por causa do vídeo e coreografia da música Vogue. A dança era inspirada em uma coreografia criada por gays em casas noturnas da época, que tinham como ideia principal imitar as modelos que saiam na capa da revista de moda Vogue. Madonna e Cher foram duas das maiores artistas femininas a ajudarem a tirar a cultura gay dos guettos.



A canadense K.D. Lang conseguiu chamar a atenção do público na década de 90 por sua voz aveludada e seu grande talento para interpretar canções emotivas. A artista, porém, era homossexual, conseguiu causar furor entre o público do período ao posar para a capa da revista Vanity Fair tendo a “barba” feita por uma modelo. Uma década antes, aqui no Brasil, a cantora Angela Rô Rô dava uma entrevista no começo da década de 1980 enquanto um repórter a questionou “qual é o seu tipo de homem?”, a cantora, sem temer represálias, respondeu, “olha, eu não gosto de homens”. Depois disso, a artista iria se envolver em um dos maiores escândalos da música brasileira, ao brigar com sua companheira da época, Zizi Possi, a cantora acabou passando dos limites e espancando sua parceira, sendo presa. Caetano Veloso iria se mostrar caridoso e criou a música Escândalo em homenagem a Angela Rô Rô:


Mamãe, eu já marquei demais, tô sabendo
Aprontei de mais, só vendo
Mas agora faz um frio aqui
Me responda, tô sofrendo
Rompe a manhã da luz em fúria arder
Dou gargalhada, dou dentada na maçã da luxúria, pra quê?
Se ninguém tem dó, ninguém entende nada
O grande escândalo sou eu
Aqui só




Influenciado pela cultura artística gay, o cantor Antony Hegarty iria despontar como um dos maiores talentos de sua época. Afilhado artístico de ninguém mais, ninguém menos que Lou Reed, se tornou um dos maiores representantes das sentimentalidades características dos homossexuais no mundo da música. Suas letras são verdadeiros “socos no estômago”, caso da já clássica Hope There´s Someone e também da sentimental For Today I´m A Boy:
Espero que exista alguém
que cuidará de mim
quando eu morrer, eu irei

Espero que exista alguém
que deixará meu coração livre
bom para me segurar quando eu estiver cansado

Um dia eu crescerei, eu serei uma linda mulher
Um dia eu crescerei, eu serei uma linda garota
Um dia eu crescerei, eu serei uma linda mulher
Um dia eu crescerei, eu serei uma linda garota

Mas por enquanto eu sou uma criança
Por enquanto eu sou um garoto




Com a chegada da década de 2000, a população mundial mudava lentamente sua visão sobre os gays. Porém, nos dias presentes, ainda existe uma grande dificuldade para os homossexuais se localizarem socialmente, isso se não tiverem nascido em uma família abastada, já que os bens financeiros ainda continuam valendo como regra. Ao contrário do que muitos esperariam, as causas gays passaram a serem utilizadas para outros ideais nos novos tempos, longe dos temas de mudanças organizados pelos próprios gays como em períodos anterior, agora, quem dita as regras é a própria indústria, que divulga desde o começo da década de 00 fatos midiáticos como motivação para divulgação das causas LGBT. A cantora pop Christina Aguilera, uma heterossexual, lança em 2002 o vídeo de Beautiful, mostrando um escancarado beijo gay. A dupla russa t.A.t.U., manipuladas por seus empresários, se passam de lésbicas adolescentes sofridas na música All The Things She Said:
E estou tão confusa, me sinto encurralada e acometida
Eles dizem que é minha culpa mas eu a quero tanto
Quero fazê-la voar para longe onde o sol e a chuva
Venham sobre o meu rosto, lave toda a vergonha

Quando eles parerem e olharem - eu não me preocupo
Porque estou sentindo por ela o que ela sente por mim
Eu posso tentar fingir, eu posso tentar esquecer
Mas isso está me deixando louca, estou perdendo a cabeça




Para completar a cena, Madonna (já citada como um dos maiores ícones gays femininos) causa polêmica ao convidar Britney Spears e Christina Aguilera e criar um dos maiores fatos midiáticos de todos os tempos, beijando as duas pupilas ao vido, na boca. Esse fato representou um novo período, muitas garotas se sentiram seguras para se assumirem daí em diante, criando uma gíria, que hoje é conhecida como “sandalinha”. A cantora Katy Perry, na época do lançamento da música I Kissed A Girl falaria em entrevista:


“Depois que vi o beijo de Madonna em Britney e Christina, aquilo realmente mexeu comigo.”



Depois de 2008, algo que parecia impossível acabaria se tornando realidade, as causas gays viraram tendência na indústria fonográfica. Katy Perry já tinha causado polêmica com a já citada I Kissed A Girl, porém, quem iria melhor se apropriar do momento seria a manufaturada Lady Gaga, uma artista surgida apoiada na carência gay por um ídolo que os representassem nos novos tempos. Oportunista, a artista começou a apoiar diversas causas, que iam do casamento gay até a liberação para a entrada de homossexuais no exército norte americano, porém, é desconhecida a linha tênue que separa as reais motivações da artista das criações de fatos midiáticos para vender discos. Seguindo os ares das novas épocas, Katy Perry lança o vídeo de Firework, onde mostra um beijo gay e P!nk no vídeo de Raise Your Glass também fez a mesma coisa (a artista já tinha mostrado um beijo lésbico no vídeo de Just Like A Pill). A segunda década do século 21 chega com fortes mensagens “anti preconceito” e igualdades de gêneros. Até o rap e o hip hop, estilos musicais conhecidos por serem “homofóbicos” se rendem e passam, também, a apresentar seus próprios artistas do gênero, caso do cantor Frank Ocean, que ficou conhecido por ser um dos primeiros assumidos dentro da tribo, tal fato, porém, não atrapalha em nada sua carreira, que continua a trabalhar com figurões como Jay Z e Kanye West. 




A dupla Macklemore & Ryan Lewis, surgidos na cena alternativa do hip hop, lançam em 2013 o vídeo da música Same Love, emocionante produção onde a história de um gay é contada de forma épica e espiritual. Apesar de serem heterossexuais, os artistas apoiam abertamente as causas gays, mostrando um novo comportamento humano nas épocas atuais.






terça-feira, 21 de outubro de 2014

A evolução da mulher na indústria musical

A profissão de cantor começou a ser posta em prática entre o fim do século XIX e começo do XX, antes deste período, a música era definida apenas pelos ritmos instrumentais, como a valsa. Com os ares da nova época, abriu-se espaço para o profissional cantor, o intérprete que tentaria passar, através de sua voz, os sentimentos das composições e das melodias. Desde o início da profissionalização do interprete, apenas os homens tinham espaço na grande maioria das gravações e nas composições, as mulheres, personagens secundários na grande parte da cronologia histórica, estavam ganhando espaço durante o século XX, porém, as cantoras ainda eram vistas com bastante preconceito por grande parte das sociedades do período. Geralmente, tal profissão era vista como algo próximo da prostituição, seres do submundo, dessa forma poderiam ser consideradas as primeiras grandes cantoras por parte dos críticos. Nos Estados Unidos, país que estava se transformando em uma grande potência durante o fim do século XIX e começo do XX, tinham como uma de suas bases culturais mais fortes da formação de sua nacionalidade, os sons feitos por negros, descendentes diretos dos escravos do período colonial. Tais músicos trouxeram a musicalidade de seu continente de origem e adaptaram ao novo espaço geográfico em quê viviam. O jazz e o blues conquistaram de cara grande parte das elites intelectuais e passaram a ser comercializadas com outras regiões do mundo, entre os representantes do estilo, se destacou uma artista feminina, Billie Holiday, uma cantora de primeiríssimo nível que interpretava as composições como se realmente tivesse sentido toda a emoções das letras.


 Apesar de ser uma artista de alto nível, Billie não teve uma vida nada fácil, foi abandonada pela mãe logo cedo, teve que se sustentar sozinha e chegou a cantar em bordéis, a proximidade com o submundo da sociedade influenciou a artista a escolher composições densas e complexas, que iam do racismo até o papel da mulher na sociedade, passando por amores bandidos. Uma das mais famosas, intitulada My Man, dizia:

Duas ou três garotas
Ele tem
Que ele gosta, assim como eu
Mas eu o amo

Eu não sei por que eu deveria
Ele não é verdadeiro
Ele me bate, também
O que posso fazer?


Polêmico não? Imagine para a sociedade da década de 30? Do outro lado do oceano, no continente europeu, a francesa Edith Piaf (que nasceu no mesmo ano de Billie Holiday), causava igual polêmica. Abandonada pela mãe prostituta, criada no bordel da avó e cantora das ruas, Piaf tinha tudo para dar errado, porém, graças a seu enorme talento conseguiu conquistar um número grande de admiradores que apostarem no seu potencial. Enquanto foi viva, Piaf cantou temas polêmicos, semelhantes ao que ela vivenciava diariamente, nos estágios finais de sua dramática vida, Piaf interpretou a composição Non, Je Ne Regrette Rien (em tradução, Não, não me arrependo de nada), em que mostrava que não se arrependia de todos os seus sofrimentos e perdas.


No cinema, a cantora e atriz Marlene Dietrich surgiu com sensualidade nas telas, interpretando personagens femininas de atitude liberal para a época e interpretando canções com um perfil sensualizado.


No Brasil, as cantoras de Rádio ganham espaço durante o período, a mais conhecida delas, que depois iria ser intitulada como “Rainha da MPB”, chamava-se Dalva de Oliveira, que entraria para a história como uma das maiores cantoras e interpretes que o Brasil já conheceu.


Na década de 50, apesar da colaboração dada pelas grandes cantoras de jazz e blues, a profissão de cantora ainda não era vista com bons olhos. June Carter, uma das primeiras estrelas country da música norte americana, causou furor com a sociedade pós - guerra ao se divorciar diversas vezes e entrar em turnê com músicos homens (como Johnny Cash e Elvis Presley). A atitude de June abriu espaço para outras artistas se aventurarem no machista mundo da música, Patsy Cline, foi uma das mais importantes. Musa do blues, Patsy também foi uma das primeiras artistas a fazer sucesso com suas próprias composições.

Antes de Patsy, um caso chama atenção na história da indústria fonográfica. Elvis Presley, um dos artistas masculinos mais importantes da história da música, ficou conhecido por diversas músicas, uma em especial, intitulada Houd Dog, guarda polêmica. O que poucas pessoas sabiam durante o lançamento da tal música (na década de 50), era que ela tinha sido gravada alguns anos antes pela cantora Big Mama Thorton, fazendo razoável sucesso nas paradas de R&B do período. Elvis também iria se envolver em outra polêmica na sua carreira, Dolly Parton, uma das cantoras country mais importantes do estilo, acusou o grande astro de tentar roubar uma de suas músicas, I Will Always Loving You. A música iria ser gravada posteriormente pela cantora Whitney Houston. 

Os dois casos citados acima mostram o tratamento que a indústria fonográfica reservava as mulheres durante a metade do século XX. Não tardou para a imagem feminina começar a mudar no panorama musical, a proximidade com a emancipação feminina e á liberação sexual iriam ajudar a reformular a imagem da mulher na sociedade, durante a década de 60 duas artistas femininas iriam conquistar as paradas americanas no auge da "Bealtemania", Diana Ross (vocalista do grupo The Supremes) e Barbra Streisand. 


Pouco depois, surge Janis Joplin, ícone feminino do período da psicodelia, do amor livre e do culto a filosofia hippie. Janis liderou uma banda (Big Brother & The Holding Company) e ficou famosa por compor suas próprias músicas de forma irreverente. Pela primeira vez, uma artista surgia como representante de um estilo musical em igualdade com os homens. Janis chegou a ser uma das headlines do Woodstook, festival antológico da década de 60.


O sucesso de Janis entre o público alternativo abriria espaço para outras artistas serem notadas no fim da década de 60 e começo da década de 70. Surge a primeira era de cantoras/compositoras, formada por nomes como Joni Mitchell, Carole King e Carly Simon. A canadense Joni Mitchell ficou famosa como uma das maiores poetisas da história do cancioneiro popular. Já King e Simon, entraram para os anais da música como duas das primeiras compositoras feministas. Uma canção em especial, intitulada de Natural Woman, ficou famosa na interpretação de Aretha Franklin durante o período, a antológica música foi composta por Carole King.


De todos os nomes femininos, nenhuma compositora conseguiu impressionar mais do quê Patti Smith. Com atitude punk e composições poéticas de impressionar os maiores mestres em letras. Patti também iria marcar por seu visual absurdamente andrógino, confundindo o público com sua figura dúbia.

No Brasil, durante a década de 70 surge um tipo diverso de artista feminina, raro de ser visto no mundo nos dias atuais, a artista ligada as causas políticas. Durante o período da ditadura, os truculentos militares tiveram que suar para tentar barrar as fúrias de Elis Regina, Gal Costa e Maria Bethânia. As três gravaram hinos contra a imposição política e fizeram shows protestos antológicos (como o épico Fa-Tal – Gal a Todo Vapor). As três foram censuradas, perderam contratos, foram perseguidas politicamente e quase passaram pelo processo de exílio político.

Acompanhando o período, surgia Debbie Harry, vocalista da banda de punk/new wave Blondie. A cantora iria chamar atenção por sua imagem sensual e atitude punk, comparáveis ao comportamento de artistas masculinos rebeldes como Iggy Pop e Lou Reed. Debbie virou musa da década de 70 e a imagem feminina do rock and roll durante o período.

Nas danceterias surgiam os primeiros hinos femininos dançantes, influenciados pelo estouro da era Disco. Dois dos maiores hinos do período, It´s Raining Man e I Will Survive, marcaram especialmente por suas letras. A primeira falava de uma chuva de homens e a segunda sobre o novo papel feminino durante o fim de um romance, mais maduro e independente. Apesar de se tratarem de hinos das mulheres, as duas músicas acabaram caindo no gosto do público gay, tornando-se trilha sonora.



Durante a década de 80, surgia uma nova visão de mundo, o mercado fonográfico passava por mudanças e a música se aproximava definitivamente da globalização e dos avanços tecnológicos. Comercializar música durante o período se tornou bem mais prático, lojas de discos se tornaram fácil de serem encontradas e começou a pipocar danceterias nos quatro cantos do mundo, além da estreia da MTV, que iria abrir espaço para um novo tipo de artista feminina, a artista irreverente.


No início da era MTV, Madonna e Cyndi Lauper entraram na história como novos símbolos da imagem feminina. As duas falavam basicamente de diversão, o primeiro single de Madonna, intitulado Holiday, falava de maneira aberta sobre celebração e festa, Cyndi, bem mais direta, intitulou de Girls Just Wanna Have Fun o primeiro single do seu álbum solo. Não deu outra, viraram dois hinos. Girls Just Wanna Have Fun, em especial, merece atenção, o vídeo (dirigido pela própria Cyndi, algo raro para a época) mostra uma adolescente rebelde, interpretada pela própria cantora, que quebra todos os padrões impostos pela sociedade e busca apenas tirar o melhor proveito da vida.



Apesar das imagens liberais, as duas artistas ainda sofriam pacas para se livrar de suas raízes na busca pelo sucesso. No vídeo de Borderline, Madonna mostra os percalços de uma garota tentando virar estrela e tendo que lidar com um namorado ciumento, no fim, depois de uma experiência negativa com o sistema, a Madonna do vídeo volta para o ex. Já Cyndi, bem mais disposta a encarnar os padrões da época, lança o vídeo de Time After The Time. O vídeo começa de forma épica, mostra o diálogo de um filme antigo em quê um personagem homem abandona uma personagem mulher e a deixa sozinha. Pressionada pelo namorado por causa de seu visual e da falta de liberdade, a Cyndi do vídeo não pensa duas vezes, abandona o namorado possessivo e parte para a cidade grande.



Donna Summer e Pat Benatar, duas artistas bem mais experientes e experimentadas que Madonna e Cyndi na época, também entram para a história com dois singles e vídeos épicos, She Works Hard To The Money e Love Is A Battlefield. O primeiro ficou conhecido por mostrar a rotina tortuosa de uma mulher que sustenta os filhos sozinha, tem vários empregos e é posta em situações de stress pós traumático, o vídeo termina de forma épica com várias dançarinas representando diversas profissões femininas. Já Pat Benatar, lança uma das melhores produções da época com Love Is A Battlefield, vídeo que retrata as desventuras de uma adolescente que é expulsa de casa pelo pai e é obrigada a encarar os personagens do submundo, o vídeo conta com uma grande referência a prostituição.



Continuando a rivalidade do período, Cyndi e Madonna entram em 1985 dispostas a tudo para alcançar o topo. Cyndi lança a antológica She Bop, música que fala abertamente de masturbação feminina e grava um vídeo retratando uma sociedade americana antiquada, pasteurizada e repressora. Já Madonna, cansada de ser eclipsada pela rival, aposta todas as suas fichas no disco Like A Virgin, depois de causar furor no VMA 1984, a artista viraria estrela global com o single Material Girl, música que falava abertamente de uma mulher que buscava apenas os bens materiais. No vídeo da música, Madonna mostra uma mensagem um pouco diferente, se inspirou na vulnerável Marilyn Monroe para mostrar que tudo não passava de uma grande interpretação, que na verdade, o que importava era o amor (aham... sei)


Década de 80 também foi centro de um dos maiores retornos femininos a história da música. Tina Turner, considerada por muitos umas das artistas femininas mais importantes de todos os tempos, ressurge nas paradas de sucesso com tudo com o disco Private Dancer e coloca em dúvida as próprias regras da indústria. A cantora foi casada por vários anos com Ike Turner, importante músico norte americano e um dos pioneiros do rock and roll (ele ajudou a tocar em uma das primeiras gravações do estilo), o relacionamento começou rápido e Tina logo foi alçada ao posto de vocalista principal da banda do companheiro. O que poucos sabiam é que a cantora sofria sucessivas agressões físicas de Ike e humilhações de todos os tipos. Quando resolveu terminar, ela ouviu "você irá dar em nada sem mim", decidida, optou pela liberdade e renasceu como uma fênix. A cantora ainda deu a resposta ao ex duas vezes, quando seu livro autobiografia virou um best seller em 1986 (quando ela revelou o que passava em seu casamento) e em 1992 com o filme Tina. Virou um grande símbolo de vitória feminina.


A conceituada Aimeé Mann, teve um começo artístico menos digno com a banda Til Tuesday, porém, rendeu um vídeo que também representa a época, a baladinha cafona Voices Carry. A produção mostra uma roqueira alternativa que se casa com um yanque e tem que passar a lidar com o comportamento truculento do companheiro, que não aceita de nenhuma forma o seu visual e tenta molda-la de acordo com os padrões da sociedade. No fim do vídeo, Aimeé surta e grita desesperadamente em um teatro lotado de figuras da sociedade.


Grace Jones causa delírio entre o público com seu visual excêntrico e com seu antológico show intitulado de A MAN SHOW. Durante a apresentação, a artista apresentava performaces nada convencionais e lançou um livro contendo fotos ousadas de nudez e sexualismo.



Disposta a tudo para chocar a sociedade, Madonna lança em 1986 o hino Papa Don´t Preach, música que continha uma letra surreal de uma adolescente falando para o seu pai que não iria abortar a criança que estava esperando de seu namorado. A música causou espanto entre o público e tornava-se o começo da dominação em massas da artista. A partir daí, não existia mais Cyndi Lauper na indústria, apenas Madonna.


Ressurgindo das cinzas no mundo da música durante os anos 80, a já veterana Cher sempre foi uma figura feminina de grande importância para música. A artista foi uma das primeiras a mostrar a barriga e a apostar em visuais excêntricos, depois de reformular sua carreira por diversas vezes, Cher fecha a década de 80 com chave de ouro com If I Could Back Time. A música não tinha nada demais, mas o vídeo, onde Cher aparecia com um maiô minúsculo e se colocando claramente no papel de mulher objeto (ela cantou para mais de 1000 marinheiros) é lembrado até hoje.

Durante a década de 90, Madonna ainda continuou liderando a imagem feminina no mundo da música e ajudou as mulheres a conquistarem cada vez mais poder entre os chefões da indústria. Fez uma tour antológica (Blond Ambition), foi a primeira mulher a assinar um contrato milionário com a indústria e a ter sua própria produtora. Em 1993 coroa sua fama de má com a música Bad Girl.


O grupo Em Vogue, não tão lembrado hoje em dia, marcou a década de 90 com a música Free Your Mind. Apostando em uma atitude mais ousada e bem liberal, o grupo abriu as portas para uma classe gigantesca de artistas e grupos femininos ligados aos estilos musicais de negros, passando por rappers como Lil Lim e girlbands como Destiny´s Child. O começo da música as quatro integrantes esbravejam:
“Visto roupas justas e ando com salto alto, porém, não quer dizer que eu sou uma prostituta. Curto rap e hip hop, porém, isso não quer dizer que eu vendo drogas.”


Apesar de não ter sido lançado por uma artista feminina, o vídeo da música Crazy, da banda de rock Aerosmith, entrou para a história por mostrar duas adolescentes (Alicia Silvestrone e Liv Tyler) fugindo da escola e embarcando em uma viagem ousada. As duas, que eram menores de idade durante a gravação do vídeo, se tornaram símbolos de uma geração, a nova era da “perca da inocência”, o começo mostra a personagem de Alicia fugindo da escola com sua roupa de colegial e usa de simulações de lesbianismo. O vídeo abriu espaço para Britney Spears aparecer rebolando em Baby One More Time e a dupla t.A.t.U. surgir causando polêmica na década de 00 com o vídeo All The Things She Said.


Quando os discursos das veteranas da década de 90 já começava a ficar datado, surge Alanis Morissete com a música You Oughta Know. Single com pegada roqueira, a letra marcou uma geração por falar de forma direta e o mais breve possível sobre a situação vivida por uma mulher abandonada e trocada por outra. Porém, ao invés de sofrimento, Alanis demonstrava fúria, raiva, ódio e desejo de vingança, sentimentos nada nobres.



Lauryn Hill já tinha conseguido um feito inédito durante a década de 90, ter virado vocalista principal de um grupo de rap, o famoso Fugees. Em determinado momento a artista virou maior que seu próprio grupo, gerando conflitos com os companheiros, quando decidiu entrar em carreira solo, a artista teve liberdade de criar o disco que queria e virou um ícone da música americana moderna. Porém, para quem não frequentava os bastidores do mundo da música, não tinha ideia que a cantora passava a entrar em sucessivos conflitos internos com a própria indústria que à divulgava. Pressionada para manter o sucesso e a  qualidade sonora, a artista lançou um Unplugged MTV um tanto quanto controverso, ao invés de cantar grandes sucessos, a cantora utilizou o espaço para lançar um disco protesto contra o mundo da música. Depois do disco, Lauryn jamais conseguiu refazer suas relações com a indústria.



A também canadense Shania Twain  iria tirar o seu pedaço do bolo com o single Man, I Feel Like A Woman. Música com temática feminista e que mostrava um vídeo onde a artista se mostrava a frente de uma banda de bonitões que pareciam, de alguma forma, manipulados por seu poder de sedução. 


Com o surgimento da década de 00, pouco tinha o que se mostrar. As mulheres já tinham conquistado bastante espaço na sociedade e já eram vistam em olhar de igualdade pelos homens. O grupo Destiny´s Child, abre a nova era com a música Independent Woman, trilha sonora do filme As Panteras. Mas apesar do sucesso comercial não causa tanto impacto social. Três anos depois, quando entrava em carreira - solo, a cantora Beyoncé iria chamar a atenção com as letras do seu disco Dangerously In Love, onde se colocava no papel de uma mulher submissa e que faria tudo para satisfazer o seu homem.

Indo contra a maré, surge um novo modelo de artista feminina no pop, a vingativa. Tendo como pontapé inicial, pasmem, o vídeo da cantora Hilary Duff, da canção So Yesterday mostrava uma garota irreverente que dava o troco no namorado roubando sua camisa (onde estava escrito “everything in Texas is bigger”) e tirando foto com diversas pessoas desconhecidas. A cantora não pensa duas vezes antes de fazer terrorismo psicológico no ex, no fim envia uma foto com uma camisa escrita “You so yeasterday”.


Logo em seguida, surgem Kelly Clarkson com o vídeo Since U Been Gone, onde ela quebra o apartamento do ex, Carrie Underwood com Before He Cheaps, onde destrói o carro do ex e Lily Allen com Smile, onde passa dos limites e faz as piores atrocidades com o ex parceiro.




Enquanto a figura feminina iria se degradando nas imagens de pseudo - celebridades como Paris Hilton e Jessica Simpson, a vocalista do Evanescence, Amy Lee, lançava o vídeo de Everybody´s Fools, onde mostrava as pressões que uma mulher era obrigada a passar para chegar até o estrelado. P!nk, no vídeo de Stupid Girls, também criticava a nova imagem feminina negativa as mulheres, a artista satirizou nomes famosos como Lindsay Lohan e Nicole Ritchie para mostrar como a imagem de tais garotas prejudicavam a cabeça das adolescentes, em uma dos trechos ela falava:
“Onde foi parar o sonho da primeira garota a virar presidente? Foi parar em um vídeo do 50 Cent”

Durante anos de sua carreira, a veterana Mariah Carey foi manipulada e monopolizada por seu marido e chefão da indústria, Tommy Mottola. Apesar de aparentarem terem um casamento perfeito e união profissional estável durante a década de 90, na realidade, a cantora se sentia presa em sua vida privada e em sua carreira artística. Depois do divórcio, a cantora buscou uma nova identidade e foi tanto perseguida como boicotada pelo ex, que fez de tudo para destruir sua carreira. Depois de um longo período de fracassos, Mariah chegou na metade dos anos 00 com o disco The Emancipation Of Mimi, nome simbólico escolhido para retratar a real liberdade artistica da cantora. O disco foi considerado um dos maiores retornos da história da indústria fonográfica e colocou Mariah como exemplo de vitória e força feminina.


Com o estouro de Amy Winehouse, a velha e primaria posição feminina iria voltar á tona. Se na década de 30 Edith Piaf e Billie Holiday se envolviam em relacionamentos furados de onde só tiravam sofrimentos, a inglesa Winehouse também tentou embarcar no mesmo barco. Porém, ao contrário das grandes divas, que eram personagens do submundo, Amy era uma membro direta da classe média. Por alguma razão desconhecida, a artista se deixou envolver de forma fatal por seu parceiro, Blake Civil, e lançou um disco cheio de amargores e corações partidos. A forma degradante que levava o seu relacionamento influenciou uma geração inteira de novas artistas, que vão de Adele até Rihanna. Não faltam hoje em dia vídeos retratando relacionamentos trágicos e que terminam de forma complexa, Rihanna com We Found Love, Lana Del Rey com Born To Die e Taylor Swift com I Knew You Are Trouble. Enquanto Rihanna e Taylor mostram que deram a volta por cima, Del Rey é bem mais trágica e mostra sucessivas cenas de mortes, ao todo, a cantora já morreu quatro vezes em seus vídeos.



Como pode-se notar, o papel da mulher na indústria musical hoje em dia é um tanto quanto complexo, ao mesmo tempo em que elas vão ganhando cada vez mais poder, mais elas tentam mostrar a imagem de serem manipuladas pelo sistema ou por parceiros amorosos. Que fim a imagem feminina vai levar no mundo da música ninguém sabe, porém, com o decorrer dos tempos, elas saíram de um papel subalterno e passaram a ter cada vez mais poder, se elas vão continuar sabendo usar esse tal poder, só o futuro irá responder.